sábado, 8 de setembro de 2012

O Celtismo na Galiza hoje

Por José Manuel Nunes Vilar
Fonte original: Desperta do teu sono
Retirado de: Portal galego da Língua (publicado pelo site: Terça, 13 Setembro 2011 00:00)


É possível que falar de celtismo na Galiza seja tabu ainda quando cada vez há mais autores de diferentes nacionalidades que reconhecem anossa identidade céltica. É mais, situam aqui a génese dos povos que o tempo deu em chamar celtas. Os poderes metropolitanos parecem favorecer uma endogamia universitária destinada a dotar de coerência o artifício político e cultural que é Espanha. Porque é que se fala de cultura ou civilização castreja e não de celtismo galaico?

Beatriz Díaz Santana, (*mar shampla), diz que na atualidade o celtismo goza duma escassa aceitação académica e que as suas teorias são consideradas fantásticas e cientificamente falas. Será mesmo que pretendem isolar mais ainda o povo galego, reduzi-lo a uma mera comunidade autónoma dependente da metrópole ao despossui-lo da sua memória? Lembremos que isto é o que se faz na língua com a ILG-RAG. Neste sentido é que se pretende apresentar o galego como um idioma minoritário, desligado da língua portuguesa quando esta última apenas é mais uma variedade que trunfou e se normalizou como fala de Estado. Contudo, as publicações daqueles paladins do “politicamente correto” segundo os poderes metropolitanos começa, aos poucos, a falar de culturas atlânticas e mesmo de influências dos povos celtas.

Mas a opinião dos investigadores que também passaram pelas ilhas e pela Armórica vai muito mais longe: a Galiza é o berço dos povos celtas. Trata-se da teoria da continuidade paleolítica sustida, entre outros, por investigadores de renome internacional como Mário Alinei, Francesco Benozzo e Bryan Sykes, fundamentada em pesquisas linguísticas, arqueológicas e genéticas. Tudo aponta ao nascimento da civilização protocéltica na área compata que formavam as ilhas britânicas ligadas ao continente durante o Paleolítico. Deste modo é que os monumentos megalíticos foram uma das primeiras manifestações culturais duma série de povos atlânticos que o percurso do tempo daria em chamar de celtas e onde as mais antigas, depois das armóricas, são as galegas.

Não parece haver nas terras galaicas indícios duma influência externa, mas ao contrário, um espargimento cultural como as ondas que gera a queda duma pedra num estanque e cujo epicentro foi o que os romanos chamariam de Gallaecia. Poder-se-ia, ainda que imprudentemente, duvidar das pesquisas arqueológicas e linguísticas, mas a combinação de ambos elementos reforçada pela genética não parece deixar lugar a dúvidas quanto a que a Galiza é a pátria original da civilização celta. É o que sustem o prestigioso geneticista inglês Bryan Sykes ao dizer que os celtas que chegaram às Ilhas Britânicas procediam da Galiza e ainda quando o Leabhar Ghabhála não é uma fonte histórica válida, mas um legado mitológico, a coincidência é espantosa.

Fartos estamos de ouvir em muitos congressos, aulas de universidade e seminários o eufemismo “castrejo” num desesperado intento de justificar o legado histórico galego desde um ponto de vista forçado e isolacionista. Vem a ser o mesmo que sustêm Françoise Le Roux e Christian J. Guyonvarc'h em “A sociedade celta” quanto a que se está a atalhar o estudo do antigo desde uma perspetiva maioritariamente externa ao contexto próprio das velhas sociedades. Os apologistas da hispanidade tendem a obcecar-se com a obtenção de dados com a única vontade de conhecê-los, mas não de compreendê-los desde a cosmovisão que concede o método multidisciplinar. Limitam-se ao trabalho arqueológico e à interpretação estéril de qualquer achega linguística e antropológica.

Não se pode esperar entender nem o mais mínimo uma sociedade apenas pelo seu estudo material. A comunidades tradicionais são indivisíveis e, por enquanto, a sua análise é irreduzível a uma só disciplina. Todo nelas está estreitamente relacionado e emerge da religião como causa e fim. Tanto é assim que a velha sociedade é produto do pensamento religioso, não da arbitrariedade. Daquela como pode ser que haja investigadoras que estudam o celtismo galaico desde o panteão latino?

Lembremos o exemplo do ídolo achado em Aquis Querquenis de Bande, na Baixa Lima, região de Ourense. Trata-se dum acampamento militar romano, mas sabido é o costume de recrutar indígenas como tropas auxiliares aos que se lhes concederia a cidadania romana caso sobreviverem aos 25 anos de serviço. Assim é que baixo da armadura romana seguiam sendo galaicos que conservavam os seus credos e que, por enquanto, se encomendavam às suas deidades.

Este ídolo achado em Aquis Querquernis é, sem dúvidas, Bandua e não por acaso. Na figura, além do seu capacete e as suas roupas claramente célticas, pode-se apreciar perfeitamente a corda que a lenda diz Bandua levava ao peito e, por outra parte, também pode ser significativo o topónimo local de Bande, mas os responsáveis do estudo arqueológico da zona etiquetaram a estatuínha com o nome de Marte, quando de romana só tem o feito de ser estátua -reparar em que os celtas não edificavam templos nem concebiam às deidades em forma de objeto- Se calhar negam-se a analisar de perto a possível relação existente com a toponímia e com a mitologia indígena. Também é possível que se achem seduzidos pela ideia de apresentar ao mundo os nossos manifestos culturais com os olhos da romanidade e não com os indígenas e próprios.


Por último, mas não menos importante, cumpre pensar no motivo pelo qual os isolacionistas históricos falam de castro. Que é o que faz com se fale de castrejos e não de celtas? Qual é o componente genuíno que impede outra nomenclatura? Não será o facto de os antigos galaicos serem uma povoação dispersa onde cada castro é politicamente autónomo, porque daquela também poderse- ia dizer que todos os povos celtas são “castrejos”. A atomização não é algo genuíno dos celtas galaicos. Se bem é certo que pelo facto de partilharem língua, credo, arte.., poder-se-ia falar de nações celtas, mas na altura não existia essa consciência nem mais patriotismo que o da própria família e aldeia. Daquela não estamos perante algo tão singular como para distinguir aos galaicos do resto dos povos celtas. Por outra parte, certo é que a maior distância maior especialização tem lugar e por isso podemos falar de deidades próprias dum ou doutro “castro”, o que acontece em qualquer terra celta, mas está claro que a presença do panteão intercéltico está presente também na Galiza tal e como o testemunha a toponímia. Intentar apresentar o mundo galaico como algo sem raízes, particular do noroeste peninsular que como muito recebeu influências dos povos celtas é pura demagogia intelectual made in spain e que aos pouco está a ficar ignorada e contradita pela comunidade científica internacional.

Notas:
1. Mar shampla, gaelicismo: o mesmo que verbi gratia.


Bibliografia
Díaz Santana, Beatriz. “Os celta en Galicia: arqueoloxía e política a creación da identidade galega” Noia (A Crunha). Editorial Toxos Soutos Serie Keltia. 2002.
Le Roux, Françoise; Guyonvarc'h. “A sociedade celta” Portugal. Publicações Europa-América.1991.
Balboa Salgado, António. “A Galicia celta: a relixión” Santiago (Galiza). 2002.
Conde, María. “Una teoría de investigadores italianos sitúa en Galicia la cuna del mundo celta”. La Voz de Galicia. Sábado 21 de outubro de 2006. Sociedade, página 29.


Espaços web relacionados

Instituto Galego de Estudos Célticos http://www.estudosceltas.org/?q=gz/node/45
The Paleolithic Continuity Paradigm http://www.continuitas.org/textsauthor.html



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Olhem agora para a Europa os brasileiros, futuro do passado. Aí, na esquina capilar com que o rosto fita o Atlântico ...GALIZA. Um território que sendo Espanha não é bem Espanha

Trecho retirado do artigo:CARTA A EL-REI DOM BRASIL SOBRE O ACHAMENTO DA GALIZA -J. Carlos Quiroga D -  Santiago de Compostela, Outubro de 1996 .

RESUMO:
Visita ao quarto mais antigo e esquecido da casa-comum da lusofonia. A Galiza. Sobretudo para lembrar que o é. Sobretudo aos brasileiros. Mas cabem todos os olhos. Abre-se com chave literária a porta deste canto ocidental da Europa e passam por instantes algo da sua história que nos liga, algo do divórcio a que nos obrigaram, algo do presente da língua galega, do debate entre ortografia espanhola ou portuguesa para ela.







"Olhem agora para a Europa os brasileiros, futuro do passado. Aí, na esquina capilar com que o rosto fita o Atlântico podem achar talvez o seu passado ainda presente, a partícula de quase 30 mil Km2 chamada Galiza. Um 5,8 % do território espanhol, uns 3 milhões de habitantes. Um território que sendo Espanha não é bem Espanha. Conheço vários brasileiros que andam por cá [...], e nenhum teve de mudar a sua forma de falar para entender-se aqui.Tanto tempo de dominação espanhola não conseguiu apagar a base do que a todos nos une. Sabem os da Terra de Santa Cruz, a posteriormente chamada Brasil, que a sua língua geral nasceu aqui, neste cantinho atlântico? Alguns devem saber. Mas sabem também que aqui continua falando-se o galego, que hoje tem co-oficialidade com o espanhol, que temos Parlamento próprio, ensino, TV, cultura em galego, e ainda um debate entre os partidários de uma ortografia espanhola (a postura oficial) e os partidários de uma aproximação ao português (a postura de alguns de nós)?"


ALGO DE HISTÓRIA

O português é língua falada actualmente em amplas regiões do mundo por mais de duzentos milhões de pessoas. Idioma oficial em sete estados, presente em numerosos organismos internacionais. Fala-se até em diversos territórios não soberanos onde a sua oficialidade não está reconhecida. Todo o mundo sabe. Mas, não podendo ter sido sempre assim, valeria a pena lembrar aos brasileiros algo da sua história que menos parecem lembrar, a parte em que a semente da árvore abrolhava em origem, antes de ser-lhes levada em ramo pelos portugueses, para depois voltar a olhada de novo ao presente dessa reduzida terra da planta original. A nossa história.

Os romanos chegam à Península Ibérica no ano 218 a. de C., e tem de passar quase dois séculos para que Augusto, com sua presença e um enorme exército (ano 26 a. de C.), comece a apagar definitivamente as guerrilhas resistentes do Norte. Aí estávamos nós. Aí aconteceu o mítico suicídio do monte Medúlio, onde se amparavam grande parte das tribos galaicas, que preferiram a morte antes do submetimento. Com a vitória romana, a língua e os costumes envolvem todo o território. Em 212 o imperador Caracalla estende o direito de cidadania a todos os súbditos livres do Império. Incorporamo-nos a falar o imperial latim. Seguramente já havia peculiaridades na forma de fazê-lo nos diversos cantos do Império, mas a coesão política durante a época imperial (comunicações, administração, serviço militar) mantinha em certo grau uniforme esse latim "vulgar". No ano 409 invadem a Península os Alanos, Vándalos e Suevos. Estes últimos assentam-se na Galiza por mais de um século. A cultura romana secular é vista ainda como superior, e a sua língua fica, mas desfeito o Império, e convertidas as províncias em estados bárbaros, isoladas umas das outras, entre os séculos VI e IX aparecem diferenças notáveis entre o latim falado na área galego-portuguesa e nas outras. Os visigodos, aproveitando e adapatando-se aos quadros administrativos que encontraram, não alteram em essência a fisionomia social e linguística da Península (pelo contrário, isolando-a do resto do Império, acentuam o carácter conservador e arcaizante), deixando apenas formas léxicas, topónimos e antropónimos. Nesta altura, as tribos dispersas da Arábia iniciam a guerra santa. Em 711 os caudilhos Tarique e Muça iniciam a conquista da Península Ibérica, quase completando-a em em sete anos (haverão de passar vários centos até serem expulsos pelos hispanos). Quase, porque o Norte nunca teve uma dominação permanente, recebendo ataques esporádicos, como o saque desta cidade em que escrevo em 997 por Almançor. Linguisticamente a influência árabe foi mínima, pois traziam uma língua semita e não indoeuropeia. Mas será provavelmente no século VIII quando o latim peninsular se fragmenta, aparecendo vários domínios linguísticos coincidentes com blocos geo-políticos que lutam contra os mouros. Os filhos do latim começarão a descer reconquistando desde o Norte: catalão, aragonês, castelhano, astur-leonês e galego-português. No sul, sob dominação árabe, teriam ficado cristãos utentes ainda de uma modalidade desse latim: o chamado moçárabe, mal conhecido e sem restos, incorporando-se paulatinamente aos reconquistadores. Deixamos de parte o único resto de língua anterior aos romanos, o euskera, viva então e agora (constituindo na actualidade a referência nacionalista mais enérgica da Espanha, inclusive com luta armada em prol da independência), que ocupando a zona norte passa também a território francês. A vária sorte da guerra prolongada determina que o castelhano corte a passagem para o sul aos falares vizinhos, ficando apenas, desde a Idade Média até hoje, três grupos linguísticos românicos fortemente constituídos pela tradição, pela literatura, e pela firme vontade dos seus habitantes: o castelhano no centro, o galego-português e o catalão aos lados; essas línguas, junto com o euskera, são as hoje existentes. Também é essa sorte que determina que nesse momento (séc. XII) o território da Galiza fique integrado no bloco político aglutinado pelo castelhano, enquanto o território entre Minho e Douro continua avançando com os repovoadores cristãos até ao sul de Portugal. A um e o outro lado da fronteira emprega-se então o mesmo "falar", o galego-português em que na IdadeMédia se recolhe o inestimável tesouro lírico formado pelas cantigas, guardado geralmente em várias recopilações denominadas Cancioneiros. Completada a Reconquista pelo reino português,com a incorporação de todos os territórios da faixa ocidental peninsular salvo a Galiza, Portugal iniciará uma segunda fase expansiva, esta vez de tipo marítimo, que o vai levar muito além das fronteiras do mundo então conhecido: conseguem passar além do cabo Bojador em 1437 por meio de Gil Eanes (espécie de fronteira mítica porque se supunha o último lugar habitável para o sul), e a partir desse momento sucedem-se os descobrimentos ao longo da costa africana. Diogo Cão chega até ao rio Zaire em 1482, Bartolomeu Dias ultrapassa o cabo da Boa Esperança em 1488, e fica aberta definitivamente para Portugal a rota da Índia, aonde chega Vasco da Gama em 1498. Em 1513 os portugueses entram já em contacto com a China e em 1541 chegam ao desconhecido Japão. Por outro lado, entre 1500 e 1502, chegam também a Groenlândia, Terranova e ao Canadá, e até se crê que também puderam ter visitado Austrália. Respeito ao Brasil que me lê, há fundadas suspeitas de que também tivessem arribado às suas costas antes da famosa viagem de Cristóvão Colombo (1492). Seja como fosse, PedroÁlvares Cabral ia chegar já, por casualidade ou não, àquelas terras em 1500. De Pero Vaz de Caminha e de tanta coisa que seguiu já devem saber os brasileiros mais do que eu.
[...]
Artigo completo: http://lfilipe.tripod.com/CQuiroga.html

Pedra dos Namorados, CamariñasGaliza
http://migre.me/akzbA


Bem, abaixo segue o hino da Galiza. Ai está ele para demonstrar o porque Galiza um território que sendo Espanha não é bem Espanha...e para quem não conhece o "Galego", conhecer. 

O himno galego conxuga o poema Os pinos de Eduardo Pondal :


¿Que din os rumorosos
na costa verdecente,
ao raio transparente
do prácido luar?
¿Que din as altas copas
de escuro arume arpado
co seu ben compasado
monótono fungar?

Do teu verdor cinguido
e de benignos astros,
confín dos verdes castros
e valeroso chan,
non des a esquecement
da inxuria o rudo encono;
desperta do teu sono
fogar de Breogán.

Os bos e xenerosos
a nosa voz entenden
e con arroubo atenden
o noso ronco son,
máis sóo os iñorantes
e féridos e duros,
imbéciles e escuros
non os entenden, non.


Os tempos son chegados
dos bardos das edades
que as vosas vaguedades
cumprido fin terán;
pois, onde quer, xigante
a nosa voz pregoa
a redenzón da boa
nazón de Breogán.










O post para muitos pode parecer sem nexo, porém para mim faz completo sentido. O primeiro trecho é de um texto de Carlos Quiroga professor na Univiversidade de Santiago de Compostela. O segundo texto é o hino galego,o poema Os pinos de Eduardo Pondal (poeta importante do "Rexurdimento" galego - em breve tratarei sobre isso aqui) - , que está onde está para mostrar a proximidade do galego e do português.






Sláinte,
Fernanda Castro.








terça-feira, 10 de julho de 2012

FIONN E O SALMÃO DA SABEDORIA - Um Conto Bárdico

Origem: Ordem dos Bardos, Ovates & Druidas
por Alexandre Gabriel


Artigo originalmente publicado em "Mandrágora - O Almanaque Pagão - 2011: No Bosque Sagrado dos Druidas" (© Zéfiro, 2010. Todos os direitos reservados).







Muitos anos antes de Fionn se tornar no grande chefe guerreiro dos Fianna, o seu nome de criança era Demne Máel e a certa altura da sua juventude viu-se confrontado com a morte do seu pai às mãos de Goll MacMorna, chefe do Clã Morna, na Batalha de Castleknock, na Irlanda. Temendo pela sua vida, Fionn decidiu fugir, procurando refúgio no lago Linn Fiach. Aí habitava o bardo Finnéces, a quem Fionn pediu que lhe ensinasse as artes bárdicas, pois sabia que jamais alguém ousaria levantar um dedo que fosse a um poeta, que era uma classe digna de grande respeito por todos.


Finnéces aceitou-o como discípulo e contou-lhe a história que o tinha levado até aquele lugar: dizia-se que habitava nas profundezas tranquilas deste lago do rio Boyne o Salmão da Sabedoria, que concederia todo o seu Conhecimento e Saber àquele que primeiro o comesse, o que tinha atraído diversas pessoas ansiosas por encontrar este peixe sagrado. Para além disso, circulava também uma profecia, segundo a qual caberia a um jovem chamado Fionn alcançar o êxito nesta demanda.


Tinham já passado sete longos anos desde que Finnéces tinha acampado nas margens do lago, aí permanecendo dia e noite, segurando a sua cana de pesca, à espera que o divino salmão mordesse o seu isco, trazendo-lhe a tão desejada iluminação.


Pouco tempo depois da chegada de Fionn, a cana de Finnéces mexeu-se e remexeu-se com uma violência fora do comum. Não era um peixe qualquer. Finnéces puxou a cana e ficou pasmado, tinha nas suas mãos o Salmão da Sabedoria. Radiante de alegria, pediu a Fionn que cozinhasse o peixe, mas ordenou-lhe que não comesse a sua carne, fosse por que motivo fosse. Fionn assim fez, mas enquanto preparava o cozinhado reparou numa bolha na pele do peixe e tentou rebentá-la. Porém, ao fazê-lo, queimou o dedo no peixe a escaldar e instintivamente levou-o à boca, chupando-o para aliviar a dor. Assim, de forma inadvertida, acabou por adquirir todo o conhecimento do mundo, bem como os dons da sabedoria e da adivinhação. Ao saber do sucedido, Finnéces apercebeu-se que a profecia se tinha cumprido. Fê-lo então abandonar o nome de Demne, passando a chamá-lo de Fionn. A partir de então, sempre que chupava o dedo, todos os segredos do mundo lhe eram revelados.





Nota: Esta narrativa plena de simbolismo tem muitas semelhanças com a história de Taliesin, proveniente do País de Gales, na qual Gwion (palavra galesa que tem correspondência com o irlandês Fionn) adquire igualmente a sabedoria, de uma forma inadvertida, enquanto cuidava do Caldeirão da deusa Ceridwen.


Um dos significados atribuídos a Finnéces, que significa “Sabedoria Branca”, é “Fionn, o Vidente” e muitos autores consideram-no como sendo um duplo do próprio Fionn. Fionn será, aliás, uma alcunha que significa “belo” ou “branco”, que terá sido dada ao jovem Demne (que significa “certeza”) quando o seu cabelo ficou prematuramente branco, conforme nos contam as lendas.





Leitura Adicional:
VARANDAS, Angélica, Mitos e Lendas Celtas da Irlanda, Livros e Livros, 2006.
VARANDAS, Angélica, Mitos e Lendas Celtas do País de Gales, Livros e Livros, 2007.
MATTHEWS, John & Caitlín, Taliesin: The Last Celtic Shaman, Vermont, Inner Traditions, 2002.





domingo, 3 de junho de 2012

OGHAM

Writtenby Jenni Irving, published on 11 May 2012 under the following license: Creative Commons: Attribution-NonCommercial-ShareAlike. This license lets others remix, tweak, and build upon this content non-commercially, as long as they credit the author and license their new creations under the identical terms.



Definition

fol. 170r of the Book of Ballymote (AD 1390), part of the Auraicept na n-Éces, explaining the Ogham script. the page shows varianst of Ogham, nrs. 43 to 77 of 92 in total, including shield ogham (nr. 73). Based on Wikipedia content that has been reviewed, edited, and republished. Original illustration by Dbachmann.
One of the stranger ancient scripts one might come across, Ogham is also known as the ‘Celtic Tree Alphabet’. Estimated to have been used from the fourth to the tenth century AD it is believed to have been possibly named after the Irish god Ogma but this is debated widely. Ogham actually refers to the characters themselves, the script as a whole is more appropriately named Beith-luis-nin after the order of alphabet letters BLFSN.

Description

The script originally contained twenty letters grouped into four groups of five. Five more letters were later added creating a fifth group. Each of these groups was named after its first letter. There are some four to five hundred surviving ogham inscriptions throughout Britain and Ireland with the largest number appearing in Pembrokeshire. The rest of the inscriptions were located around south-eastern Ireland, Scotland, Orkney, the Isle of Man and around the border of Devon and Cornwall. Ogham was used to write in Archaic Irish, Old Welsh and Latin mostly on wood and stone and is based on a high medieval Briatharogam tradition of ascribing the name of trees to individual characters. The inscriptions containing Ogham are almost exclusively made up of personal names and marks of land ownership.

Origin Theories

There are four popular theories discussing the origin of Ogham. The differing theories are unsurprising considering that the script has similarities to ciphers in Germanic runes, Latin, elder futhark and the Greek alphabet.

The first theory is based on the work of scholars such as Carney and MacNeill who suggest that Ogham was first created as a cryptic alphabet designed by the Irish. They assert that the Irish designed it in response to political, military and/or religious reasons so that those with knowledge of just Latin could not read it.

The second theory is held by McManus who argues that Ogham was invented by the first Christians in early Ireland in a quest for uniqueness. The argument maintains that the sounds of the primitive Irish language were too difficult to transcribe into Latin.

The third theory states that the Ogham script from invented in West Wales in the fourth century BC to intertwine the Latin alphabet with the Irish language in response to the intermarriage between the Romans and the Romanized Britons. This would account for the fact that some of the Ogham inscriptions are bilingual; spelling out Irish and Brythonic-Latin.

The fourth theory is supported by MacAlister and used to be popular before other theories began to overtake it. It states that Ogham was invented in Cisalpine Gaul around 600 BC by Gaulish Druids who created it as a hand signal and oral language. MacAliser suggests that it was transmitted orally until it was finally put into writing in early Christian Ireland. He argues that the lines incorporated into Ogham represent the hand by being based on four groups of five letters with a sequence of strokes from one to five. However, there is no evidence for MacAlisters theory that Ogham’s language and system originated in Gaul.

Mythical theories for the origin of Ogham also appear in texts from the eleventh to fifteenth centuries. The eleventh century Lebor Gabala Erenn tells that Ogham was invented soon after the fall of the tower of Babel, as does the fifteenth century Auraicept na n-eces text. The Book of Babymote also includes ninty-two recorded secret modes of writing Ogham written in 1390-91.

Ogham writing on standing stone, seen on the right-hand side of the picture.

One of the stranger ancient scripts one might come across, Ogham is also known as the ‘Celtic Tree Alphabet’. Estimated to have been used from the fourth to the tenth century AD it is believed to have been possibly named after the Irish god Ogma but this is debated widely. Ogham actually refers to the characters themselves, the script as a whole is more appropriately named Beith-luis-nin after the order of alphabet letters BLFSN. (Imagem originalmente publicada na página de Ireland Alive- History Landscape Culture And The Irish Today:  ) 

BIBLIOGRAPHY
Carney, James. "The Invention of the Ogam Cipher." Ériu 22/1975. 62-63.

Macalister, Robert A.S.. The Secret Languages of Ireland. Cambridge University Press, 1937. Page(s) 27-36.

Macalister, Robert A.S.. Corpus inscriptionum insularum celticarum. First edition. Dublin, 1945.

MacNeill, Eoin. "Archaisms in the Ogham Inscriptions." Proceedings of the Royal Irish Academy 39. 33-53.