quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Druídas, os Homens Carvalho

Los hombres del roble





Concedednos divinidades
Vuestra protección
Y con vuestra protección, la fuerza
Y con la Fuerza, la comprensión
Y con la comprensión, el saber
Y con el saber, el sentido de la justicia
Y con el sentido de la justicia, el amor
Y con el amor, aquel de todas formas de vida
Y en el amor de todas las formas de vida, el amor de los dioses y de las diosas
Y de todas sus fuerzas"

Su imagen es el misticismo, la magia, ese poder sobrenatural anhelado. Con sus túnicas y largos cabellos han sobrevivido a los siglos en la mente de los que sueñan con los arboles y las estrellas. Por el aire su espíritu recorrió la tierra europea invadiéndola de partículas mágicas, los hombres del roble dejaron su alma flotando sobre la tierra verde.

Hacían las funciones de sacerdotes, astrónomos, adivinos, magos, jueces, maestros, médicos, instructores…, los druidas eran la minoría que poseía el poder, la magia y el conocimiento. Reclutados entre la nobleza, no eran una casta hereditaria, los druidas ancianos seleccionaban a los más capaces y de jóvenes ingresaban en escuelas donde eran instruidos en ciencias naturales aplicadas a la religión, la astronomía y la adivinación. Podían pasar más de veinte años hasta completar la preparación, toda su enseñanza se basaba en la memoria, la observación y la oratoria. Al acabar la instrucción pasaban a formar parte del clero celta encabezado por un sumo pontífice. No pagaban impuestos, no iban a la guerra y no trabajaban la tierra. Pero su función dentro de la comunidad era múltiple, estudiando el movimiento de la luna y el sol establecían el calendario, vital para el ciclo de cosechas. Ejercían de jueces en los litigios y sus fallos debían de ser aceptados por el afectado bajo pena de no poder realizar sacrifios, siendo condenado como impío y criminal. Eran los instructores de la nobleza guerrera preparándola técnica y espiritualmente para el combate. En los momentos complicados ejercían como asesores diplomáticos y su magia era puesta a disposición de los espíritus guerreros. Como clero establecían las fiestas religiosas y preparaban las ceremonias, esos rituales místicos y mágicos donde invocaban fenómenos meteorológicos o realizaban curaciones, donde sus oraciones se perdían entre las sombras de los arboles envueltas en música grave y solemne. Antes del combate, los celtas cantaban golpeando los escudos con sus armas y soplaban sus trompas con el fin de atemorizar al enemigo, los druidas con sus fuegos invocaban a los espíritus para que volando junto a los sonidos protegieran a su pueblo. Su símbolo sagrado era el muérdago recolectado en invierno el sexto día de la luna, en una solemne ceremonia realizada por un sacerdote vestido de blanco que cortaba la planta con una hoz de oro depositándola en un manto, momento en el que eran inmolados dos toros blancos.

“Tal como un árbol.
Del cual las raíces penetran en todas las capas profundas de la Tierra
y suben hacía el Cielo para elaborar lo que justamente
las Fuerzas Divinas le incitan a producir.
Te pido árbol del Mundo que mi eje de vida
este siempre en expansión y crecimiento, como el tronco de tu árbol.
Capa profunda de mi Tierra.
Infunde el Flujo de mi Alma en mi Árbol de vida.
Que el árbol de Vida proyectado,
Así de mis raíces pueda realizar,
El Destino de mis Frutos de toda mi Tierra”



A pesar del paso de los siglos los hombres del roble perviven en nuestros campos, en el rocío de las hojas, en la savia de los arboles, en el azul del cielo, sus almas se mezclaron en el horizonte para perderse y volver. La esencia celta brota con el relente de la mañana en estos añejos campos europeos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Novidades do "Mundo de lá" DVD DO BRAIA LANÇADO



Finalmente é lançado o primeiro registro em DVD da banda Braia. Pra quem não sabe, o Braia é o projeto que Bruno Maia (Tuatha de Danann) iniciou em 2007 como um trabalho solo, lançou o cd "Braia...e o mundo de lá" no Brasil e na França, e hoje se tornou uma verdadeira banda, com nove integrantes. A proposta do Braia é mesclar a música celta com a música brasileira -o choro , a música mineira - e o rock progressivo dos anos 70.Tudo isso regado a muitos intrumentos atípicos à produção musical brasileira como a uilleann pipe(gaita de fole irlandesa), bouzouki, banjo, tin e low whistles,entre outros, além dos convencionais intrumentos do pop/rock como violões, guitarra, bateria, baixo, teclados ,etc... O DVD contem todas as músicas do cd "Braia...e o mundo de lá" executadas ao vivo, uma inédita, Lorac mo Chrói e performances dos membros da banda em solos fantásticos como a da cantora Fernada Ohara, o baterista Anderson Alarça, os tecladistas Edgard Brito e Rafael Castro em um duelo e o gaiteiro Alex Navar. Não deixem de conferir esse diálogo multicultural que transcende as fronteiras da arte convencional e sejam bem vindos ao universo mágico do Braia. Line Up: Bruno Maia- vocais, bouzuki, bandolim, tin e low whistle, banjo, violão, guitarra e guitarra havaina Fernanda Ohara- vocais Julio Andrade- vocais, violões, guitarra,bandolim e bouzouki Giovani Gomes- baixo e vocais Alex Navar- uillean pipes Roger Vaz-violinos Edgard Brito- teclados e escaleta Rafael Castro- teclados Anderson Alarça - bateria Confiram um trailer do DVD no site da banda : http://www.braiamusica.com/
Confira mais neste link : Roça'n'Roll

Mitologia Celta da Irlanda - parte 3 (Ciclo dos Reis e Imramma, Jornadas ao Outro Mundo )



Ciclo dos Reis

Descrito como “menos mágico do que o Ciclo Mitológico, menos heróico do que o Ciclo do Ulster e menos romântico do que o Ciclo Feniano” (James MacKillop), o Ciclo dos Reis retrata os feitos de diversos reis históricos de pequenos reinos locais da Irlanda. É importante alertar que a palavra “rei” no sentido celta é bem diferente da visão moderna do déspota plenipotenciário ou da figura alegórica que caracterizam os reis no imaginário popular de nossos dias. O rei celta deveria ser “física, mental e espiritualmente íntegro”, pois de seu casamento simbólico com a Soberania do Reino dependia a prosperidade da terra e de seu povo. Os reis celtas costumavam ser escolhidos não por sua linhagem, mas por seu valor e sabedoria – o que não impedia o estabelecimento de famílias reais que deram origens à visão da liderança dos clãs. A própria palavra ‘clã’ vem do irlandês clann, literalmente, ‘família’ – não a família nuclear que conhecemos, mas a família estendida, a tribo. É o que vemos em Baile in Scáil, “O Êxtase Poético do Espectro” no qual o ‘espectro em questão é ninguém menos que o poderoso deus Lugh surge ao lado de sua esposa, a Donzela da Soberania da Irlanda, diante do rei Conn “das Cem Batalhas” para lhe oferecer a taça com a cerveja vermelha da Soberania – um tema intimamente associado à imagem do Graal arthuriano. A pergunta que o cavaleiro Perceval deveria ter feito ao Rei Pescador no romance medieval Persival – “a quem serve o Graal?” – surge nesta lenda irlandesa anterior e pouco conhecida: ao ofertar o cálice com a cerveja vermelha a Donzela da Soberania pergunta a Lugh: “a quem devo ofertar esta taça?”

Outro texto importante deste Ciclo é “A Loucura de Suibhne”, em que o Rei Suibhne, o Louco desafia o cristianismo de São Ronan e, como resultado de ‘maldições’ lançadas pelo cristão, enlouquece e passa a viver como um pássaro, voando pelos bosques da Irlanda e recitando poemas que são verdadeiras odes à Natureza e às árvores. Pelo paralelo facilmente estabelecido com a história britânica de Myrddyn / Merlin, que também ‘enlouquece’ e passa a profetizar em meio à natureza, podemos identificar em ambas as histórias sobrevivências de elementos xamânicos pré-cristãos da espiritualidade celta.

Imramma, Jornadas ao Outro Mundo
 
Outro componente de natureza bastante xamânica da literatura celta irlandesa são as lendas conhecidas coletivamente como immrama, ou literalmente, “remações”, viagens por água, que são jornadas ao outro mundo – retratado como ilhas sagradas a oeste da Irlanda. Entre elas, citamos a “Balada de Oisín no Outro Mundo”, em que o herói Oisín, filho de Fionn Mac Cumhaill, viaja para Tír na nÓg, a ‘Terra da Juventude’, numa jornada por mar em companhia da belíssima – e divina – Niamh “dos Cabelos Dourados”. Lá ele passa 300 anos como esposo de Niamh, que lhe concede três filhos. Quando ele decide visitar a Irlanda, Niamh tenta demove-lo da idéia, mas por fim ele parte no cavalo branco dela, com instruções expressas de jamais descer do cavalo. Ao retornar, a Irlanda que ele encontra está transformada – os grandes e nobres Fianna haviam desaparecido, os homens são fracos e sem dignidade. Por fim, Oisín acaba descendo do cavalo, o que faz com que ele envelheça todo o tempo que ele estivera fora.
Em “A Viagem de Bran mac Febail”, o protagonista também é atraído ao Outro Mundo por uma linda mulher que lhe surge num sonho (transe xamânico?). Sua jornada pelos domínios do deus Manannán (o mar) é plena de maravilhas, passando por diversas ilhas mágicas repletas de simbolismo até que também ele retorna para uma Irlanda que ele não reconhece – afinal, o tempo passado no Outro Mundo correra de forma diferente... ele relata suas aventuras usando varetas com inscrições em Ogham – o alfabeto sagrado dos druidas irlandeses – e em seguida retorna para o Outro Mundo.
A imram de Bran é em diversos aspectos muito semelhante à de Mael Duin, e seu simbolismo oculto foi ricamente explorado pela autora Caitlín Matthews em sua obra “O Livro Celta dos Mortos”, um inspirado trabalho oracular facilmente compreendido por quem se disponha a estudá-lo.
Elementos de ambas são encontrados na obra Navigatio Sancti Brendani, a “Viagem de São Brandão, o Navegador”, um místico irlandês que, no século VI, teria feito uma jornada a terras pardisíacas a oeste da Irlanda. A popularidade desse texto levou-o a ser redigido em diversos idiomas, inclusive no português – daí não ser difícil estabelecer uma correlação bastante direta com a nomeação, em eras posteriores, das terras descobertas pelos portugueses na América com um dos nomes das ilhas sagradas da mitologia irlandesa, alcançada justamente por uma imram: Hy Brasil, a “Ilha dos Abençoados”. O fato de São Brandão de Clontarf ser uma personagem histórica oriunda da classe druídica da Irlanda aumenta a importância dos relatos e de sua relevância mística na nomeação das terras brasileiras.

Ao final de toda imram, chega-se ao Paraíso, as terras sem maldade, sem doenças, onde todos permanecem jovens: o mundo perfeito. As imramma podem ser, assim, vistas como jornadas míticas que nos levam a uma visão da perfeição, para que essa perfeição informe nossa ação no mundo em que vivemos – o trabalho de cura e transformação inspirada do mundo, função fundamental dos mitos e lendas de todos os povos.




domingo, 21 de novembro de 2010

Mitologia Celta da Irlanda - parte 2 (Ciclo do Ulster e Ciclo Feniano)



Ciclo do Ulster
 
A Irlanda celta era dividida em cinco províncias: Leinster, a leste; Munster, ao Sul, Mídhe, no centro; Connacht no oeste, e Ulster ao norte. Daquela região nos chegam as lendas e feitos de heróis como Cuchulainn (dir.), Conchobhar mac Nessa e Fergus mac Róich, poderosas mulheres como Macha, Maedbh e Fedelm, e a trágica história de amor de Deirdre dos Pesares. Menos divino do que o Ciclo Mitológico, o Ciclo do Ulster – também conhecido como Ciclo do Ramo Vermelho – tem seus primeiros registros por escrito datando do século VIII, e muitos fatos e personagens foram preservados também no folclore da Irlanda, da Ilha de Man e da Escócia. A magia é uma característica constante: humanos assumem a forma de animais e interagem com os divinos Tuatha de Danann. Os hábitos e costumes relatados fornecem um retrato bastante claro dos valores dos celtas da Irlanda: sociedades guerreiras em busca de prestígio e ascensão, mulheres e homens em paridade, riqueza representada pela posse de gado, heroísmo individual e irmandade tribal.

Alguns dos textos mais importantes do Ciclo do Ulster são: “O Banquete de Bricriu”; “A Destruição da Pousada de Da Derga”; “A Doença de Cuchulainn e o Único Ciúme de Emer” e, principalmente, “O Roubo de Gado de Cooley” ("Táin Bó Cuailgne"), onde vemos a saga de Cuchulainn como o guerreiro irlandês por excelência.
 
 
 
 
Ciclo Feniano
 
Como diz o próprio nome, este grupo de lendas, poemas e contos apresentam as aventuras dos Fianna Éireann, um mítico grupo de guerreiros liderados pelo herói Fionn mac Cumhaill. Os relatos apresentam diversos fatos históricos que retratam a transição da religião celta para o cristianismo, especialmente no “Colóquio dos Anciães”, em que Oisín, filho de Fionn, argumenta com São Patrício a favor da antiga religião, enaltecendo suas virtudes: a coragem, a generosidade, a hospitalidade e a liberdade da sociedade celta original. Também as lutas entre tribos celtas do sul e do Oeste da Irlanda são retratadas. Assim como no Ciclo do Ulster, as lendas do Ciclo Feniano estão repletas de eventos mágicos e contatos com deuses ancestrais. Além de “O Colóquio dos Anciães”, dois outros textos significativos são “Os Feitos de Fionn na Infância”, que relatam como ele se tornaria o grande guerreiro e sábio que é, e a história de amor “A Perseguição de Diarmuid e Gráinne”, que pode ser identificada como uma das mais remotas raízes para o clássico “Romeu e Julieta” de Shakespeare.
 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mitologia Celta da Irlanda - parte 1 (Ciclo Mitológico)



Origem: Claudio Quintino Crow





A mitologia celta irlandesa costuma ser dividida em quatro ciclos:

1. Ciclo Mitológico;

2. Ciclo do Ulster;

3. Ciclo Feniano;

4. Ciclo dos Reis





Ciclo Mitológico



A este grupo pertencem alguns dos mais importantes relatos mitológicos da Irlanda celta – o maior de todos sendo, sem dúvida, o Léabhar Gábhala na hÉireann (literalmente “Livro das Tomadas da Irlanda”), mais conhecido como ‘Livro das Invasões’. Trata-se de uma intrincada narrativa que descreve as sucessivas chegadas de povos míticos às terras irlandesas. A primeira ‘invasão’ é liderada pela rainha Cesair que, acompanhada por um pequeno contingente, chega a Inis Fáil (‘Ilha do Destino”, outro nome para a Irlanda) e tenta povoá-la, sem muito sucesso. Seguem-se os Partholonianos, assim chamados graças a seu líder, Partholon e oriundos do leste do Mediterrâneo (Bálcãs?). Os Partholonianos se mostram hábeis colonizadores, introduzem a agricultura e a pecuária, as artes metalúrgicas e outras formas de artesanato, a medicina, desenvolvem leis e introduzem a confecção de cerveja à Irlanda (algo que se tornaria uma tradição). Malaliach, o primeiro a produzir cerveja, é também o primeiro a valer-se de técnicas divinatórias na Irlanda - o que comprova a sacralidade do consumo de bebidas fermentadas como formas de se atingir o êxtase ritual que permite o contato com os deuses (‘divinação’, do latim divinatio/divinare, ‘falar com os divinos’). Os Partholonianos são também os primeiros a precisar enfrentar os temíveis Fomoire (ou Fomorianos), um povo de piratas e saqueadores de que falaremos mais a seguir. Segundo o texto, uma praga levou todos à morte no breve período de uma semana.



O Povo de Nemed, ou simplesmente os Nemedianos, são os próximos a aportarem em terras irlandesas, vindos por mar desde a Cítia. Liderados por Nemed, contavam entre eles o druida Míde, o primeiro a acender uma fogueira sagrada na Irlanda na colina de Uisnech – o centro que unia as quatro províncias da Irlanda celta. Uma fogueira acesa no centro cósmico da Irlanda é algo de grande importância espiritual, e as escavações na colina revelaram grandes quantidades de cinzas – de fato, Uisnech era usada pelos celtas como centro dos fogos de Beltaine. Por três vezes em sua história, os Nemedianos conseguem repelir as hostes invasoras dos Fomorianos. Na quarta batalha, contudo, a raça de piratas leva a melhor e obriga os Nemedianos a pagar um pesado tributo anual, durante o período de Samhain. A tentativa de se livrar dessa opressão fracassa, e os Nemedianos são massacrados – os poucos sobreviventes espalham-se pelo continente europeu. (Alguns historiadores - como T. O’Rahilly -identificam nos Nemedianos elementos que os associam aos Érainn, um dos primeiros povos a historicamente colonizar a Irlanda, por volta de 500 a.e.a.). Após a destruição dos Nemedianos, a Irlanda fica sob o controle dos violentos Fomorianos, uma raça terrível de deuses piratas.

Algumas gerações depois, chegam à Irlanda os Fir Bolg, literalmente os “Homens de Builg”. Os Builg são uma variação da tribo celta histórica dos Belgae, que povoaram áreas no sul da Irlanda, na Inglaterra e no continente europeu, no território que até hoje recebe seu nome – a Bélgica. Mitologicamente, os Fir Bolg descendem de Starn, um dos filhos de Nemed – portanto, não eram desconhecidos na Irlanda, mas sim uma nova leva de invasores Nemedianos, que voltavam para a Irlanda fugindo de opressão nas terras gregas onde originalmente habitavam. O Livro das Invasões explica que são os Fir Bolg a trazer armas de ferro pela primeira vez à Irlanda, e que o reinado de Eochaid mac Eirc é justo e próspero. È o Rei Eochaid que determina que as colheitas serão anuais – uma conexão clara com o desenvolvimento da agricultura. O fato de sua esposa Tailtiu ser uma deusa ctônica é outro ponto que mostra a ligação dos Fir Bolg com o desenvolvimento agrícola (Posteriormente, Tailtiu será a mãe adotiva de Lugh, um dos principais deuses celtas). Curiosamente, durante o período de ocupação dos Fir Bolg, os sempre terríveis Fomorianos não são mencionados. Quem viria a interromper a dominação Fir Bolg seria os mais formidáveis invasores da Irlanda: os Tuatha de Danann.

Lugh, Manannan mac Lír, Brighid, Morríghan, Dagda, Nuada, Ogma, Angus Óg, Bóann – quem se interessa por mitos e lendas celtas certamente já viu ao menos alguns desses nomes antes. São os mais importantes deuses e deusas da mitologia celta irlandesa, seres poderosos, divinos, passionais, carismáticos. Oriundos de quatro cidades míticas – Falias, Findias, Gorias e Murias – de onde trazem quatro tesouros (cada um associado a um dos quatro elementos), os Tuatha de Danann chegam à Irlanda vindos do Oeste – a direção do Outro Mundo – em navios mágicos envoltos por uma bruma que eclipsa o sol por três dias. São eles a introduzir na Irlanda o conhecimento druídico (draíocht), bem como a criação de suínos. Eles derrotam os Fir Bolg na Primeira Batalha de Moytura, e depois, sob a liderança de Lugh Lamfhóta, finalmente repelem os temíveis Fomorianos de uma vez por todas na Segunda Batalha de Moytura, estabelecendo uma ‘era dourada’ de paz e prosperidade durante a qual reina a magia e a força desses deuses e deusas. Uma dessas deusas é Ériu, que dá seu nome até hoje à República da Irlanda – Éire. A chegada dos Milesianos, um grupo de mortais liderados por Mil Espáine, põe fim ao domínio dos Tuatha de Danann que, dali por diante, passam a habitar as colinas ocas e/ou as ilhas paradisíacas a oeste da Irlanda – entre elas, Emain Ablach, a “Fortaleza das Macieiras” (associada à Avalon Arthuriana) e a “Ilha dos Abençoados”, Hy Brasil.



De forma grosseira, podemos dizer que os Tuatha de Danann deixam de habitar este mundo e passam a viver noutra dimensão, mais sutil, espiritual – mas ainda em contato com esta realidade. Prova disso é sua habilidade de transitar entre nós, mortais, graças ao encantamento conhecido como féth fiada (‘maestria da névoa’) ou ceo druídecta, o ‘fog druídico’, através do qual o ‘usuário’ fica invisível ou assume a forma de um animal – xamanismo novamente.



Os Milesianos são a última onda migratória a se assentar na Irlanda. Após derrotarem os poderosos Tuatha de Danann, o povo liderado por Mil Espáine se estabelece nas terras irlandesas e encerra o “Livro das Invasões”. De todos os fatos narrados no texto mitológico, a invasão dos milesianos parece ser a que mais possui equivalência histórica, por sua associação com os Goidels, ancestrais dos modernos irlandeses. Segundo o Livro das Invasões, os Milesianos vêm da Cítia e se instalam na Península Ibérica, na região onde hoje fica a cidade portuguesa de Bragança (Trás-os-Montes, uma área rica em vestígios da ocupação celta pré-romana). De lá, partem para a Irlanda, onde aportam durante Beltaine, após demonstrarem grande conhecimento de magia. Um dos mais belos exemplos dessa magia é o poema recitado por Amergin, o primeiro bardo da Irlanda, ao desembarcar.

 
Sou o vento que sopra sobre o mar;

Sou a onda das profundezas;

Sou o rugido do oceano;

Sou o Gamo de Sete Batalhas;

Sou um falcão no penhasco;

Sou um raio de sol;

Sou a mais verdejante das plantas;

Sou um javali em fúria;

Sou um salmão no rio;

Sou um lago na planície;

Sou uma palavra de Sabedoria;

Sou a ponta de uma lança;

Sou a fascinação para além dos confins da terra;

Como os deuses, posso mudar de forma.




Conhecido como a Canção de Amergin, esse poema é uma ode à Natureza - tão nobre e inspirador quanto os textos sagrados hindus. Parafraseando Peter Beresford-Ellis, “nesta canção, Amergin une o universo a seu próprio ser, num pensamento filosófico que remete à declaração de Krishna no Bhagavad Gita hindu”.

 
Assim como os textos mitológicos indianos estão repletos de referências históricas e vice-versa, também na Irlanda celta o mesmo se aplica. Por analogia, se Shiva, Sarasvati, Ganesh e outas deidades hindus são ainda hoje cultuadas após a restauração do hinduísmo nos últimos séculos, também os deuses e deusas celtas permanecem vivos nos corações, nas mentes e nas almas dos que procuram restaurar a mitologia/espiritualdiade celta como fonte coerente e válida de inspiração para nossas vidas.




quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tuatha de Danann - Os Deuses da Irlanda

 


Origem: maryjones.us
 
 
While the word tuatha is a common enough word meaning "tribe" or "people", a translation of the phrase Dé Danann is difficult--it may mean "the Goddess Danann" or "the Goddess Danu", or it may mean "The Skillful Gods". Some portions of the Lebor Gabala refer to a Danann as the mother of the gods, or only as other of three specific figures, the sons of Turenn. On the other hand, an earlier text refers to Ana--in LGE Anann or Anand--as the mother of the gods, and this Ana is somtimes identified with Danann/Danu. Due to the late date of composition, it is a confusing mix. At any rate, the term may also refer to their position as the gods of skills, as opposed to their enemies the Fomorians, who are more like the Vanir or Titans--more concerned with fertility aspects than with skills.


Either way, the term is used to refer to that tribe which was the last to invade before the Milesians, who drove them off into the hollow hills. The Annals of the Four Masters and subsequent historians attempted to demythologize them, saying they came to Ireland in Anno Mundi 3303--ca. 701 BCE. The Second Battle of Magh Turedh also attemts to euhemerize them:

§2. They burnt their ships at once on reaching the district of Corcu Belgatan (that is, Connemara today), so that they should not think of retreating to them; and the smoke and the mist that came from the vessels filled the neighboring land and air. Therefore it was conceived that they had arrived in clouds of mist.

 while the Lebor Gabala Erenn paints them in more mythological terms:
§55. So that they were the Tuatha De Danann who came to Ireland. In this wise they came, in dark clouds. They landed on the mountains of Conmaicne Rein in Connachta; and they brought a darkness over the sun for three days and three nights.


At any rate, the TDD are said to come from four cities:

• Murias: from which came the Undri, Inexhausible Cauldron of the Dagda, fashioned by Semias the Druid

• Finias: from which came Cliamh Solais, Nuada's Sword of Light, fashioned by Uscias the Druid
• Gorias: from which came Sleá Bua, Lugh's Spear of Victory, fashioned by Esras the Druid
• Falias: from which came the Lia Fail, the Stone of Destiny at Tara, originally protected by Morfessa the Druid.


 
Once in Ireland, they battled the Fir Bolg in for dominion, and established their own kings over the land:
• Nuada
• [Bres mac Elatha--half Tuatha, half Formorian]
• Lugh Lamhada
• Eochaidh Ollathair a.k.a. the Dagda
• Dealbhaeth son of Oghma
• Fiacha the son of Dealbhaeth
• Mac Cuill, Mac Ceacht, and Mac Greine together, the sons of Cermait son of the Dagda.



It was under the three brothers that the Milesians came to Ireland and drove the TDD into the hollow hills. While Manannan divided up the sídhe for the TDD to dwell in, Bodb Dearg, son of the Dagda, then became king; this drove Manannan's father Ler to nearly leave the island. However, Ler is likely not TDD anyway. No, Ler and his family appear to be a seperate group from the Tuatha Dé Danann. This may be because Ler, Manannan, et al., are oceanic gods, and the Celts were originally land-locked. They were already on the island before the Tuatha came. At any rate, this mirrors the relationship between the Plant Dôn of Wales--the equivalent to the Tuatha Dé Danann--and the Children of Llyr.




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Afinal, quem são os celtas?





Artigo retirado de: Claudio Quintino Crow




"Chamam-se povos indo-europeus os que utilizam uma das línguas indo-européias."
- Pierre Lévéque, As Primeiras Civiizações Vol III

Os celtas falavam línguas de origem indo-européia, variações das quais ainda existem em nossos dias na forma do irlandês, do gaélico escocês, do córnico, do idioma falado na Ilha de Man, do galês e do bretão – portanto, é correto afirmar que os celtas pertenciam à grande família cultural indo-européia. Isso os põe em parentesco – ainda que em alguns casos bem distante - com outros importantes povos da Antigüidade, como os germânicos, os eslavos, os gregos, os romanos e os indianos - todas essas culturas têm as mesmas origens indo-européias, mas diferenciam-se pelo contato e absorção das culturas com as quais se mesclam em seu longo e contínuo processo de desenvolvimento. Mais uma vez citando Lévéque, "cada um dos povos 'indo-europeus', na sua localização histórica, resulta de uma síntese étnica entre, pelo menos, populações pré-históricas locais cujas raízes remontam no local até os tempos paleolíticos e, por outro lado, imigrantes portadores de uma língua indo-européia cuja imposição à região e evolução local desembocam nas línguas historicamente atestadas."

Uma vez que as línguas são apenas um de vários aspectos que determinam a idade cultural de um povo, podemos intuir que os celtas, além da língua, herdaram também costumes sociais e valores espirituais de seu passado indo-europeu.

"Entre os indo-europeus toda noção tende a tomar forma, todo princípio é personificado. Grande parte do panteão dos deuses provém desta tendência de considerar a idéia viva e o pensamento vívido."
-Jean Haudry, Os Indo-europeus

Essa afirmação corrobora com a visão clássica dos celtas serem, já em sua origem indo-européia, animistas por natureza – visão atestada pelos incontáveis exemplos de deuses e deusas celtas como personificações das forças da natureza. Na terminologia usada por Haudry, a "noção" e o "princípio" dos rios, por exemplo, "toma forma" e é "personificada" por deusas – Síonann e Bóann na Irlanda (rios Shannon e Boyne), Clótha na Escócia (rio Clyde), Sequana na Gália (rio Sena), apenas para citar algumas.

Outros elementos irrefutavelmente indo-europeus da cultura celta são a valorização da vida e da busca dos prazeres e confortos, o enaltecer da glória pessoal e da honra (o caráter) como sendo a principal qualidade do indivíduo.

Assim, não basta ao herói ou heroína a busca pela glória no sentido de "conquista": a verdadeira glória é aquela que é obtida dentro de rigorosos princípios de honra, ética e caráter.

Um dos maiores desafios dos pesquisadores – historiadores, paleontólogos, lingüistas – foi determinar qual território teria sido o ponto inicial da cultura indo-européia. Apesar de ainda existirem pontos discutíveis acerca desta ou daquela afirmação, parece seguro dizer que os indo-europeus surgem no que hoje é o Irã, e dali se expandem em duas vagas – uma para leste, outra para oeste. A que nos leva ao Ocidente é justamente a que vai originar a cultura celta.



O Nascimento dos Celtas

“Quando os celtas surgem pela primeira vez nos registros históricos, por volta de 500 a.e.a., aparentemente eles já haviam ocupado grande parte da região dos Alpes e as áreas imediatamente ao norte, na França central, e em partes da Península Ibérica.

Tradicionalmente, esses primeiros celtas costumam ser amplamente associados à cultura Hallstatt da Idade do Ferro européia. As escavações revelam tumbas ricamente adornadas, tidas como pertencentes aos chefes tribais ou às classes reais, e associadas a uma série de centros de defesa. Esses ‘principados’ nos fornecem evidências de comércio com o Mediterrâneo clássico, especialmente com a colônia grega de Massalia (Marselha).”

A partir do quinto século a.e.a., num território que se estende do leste da França até a Boêmia, surgiu uma nova cultura celta, que recebe o nome do sítio arqueológico de La Téne na Suíça, onde foi identificada pela primeira vez. Também esta fase se caracteriza por sepultamentos esplendidamente decorados, contendo evidências de contato com o mundo clássico (cidades etruscas, através dos Alpes). Pouco depois de 400 a.e.a., estes celtas La Téne irromperam através dos Alpes, invadindo e estabelecendo-se no vale do Rio Pó e saqueando Roma por volta de 390 a.e.a. Os romanos os conheciam como Galli, gauleses – um termo posteriormente aplicado especificamente aos celtas da França. Outros migraram através dos Bálcãs, atacando a Grécia e saqueando Delfos talvez em 279 a.e.a. Conhecidos pelos gregos como Keltoi ou Galatae, alguns deles cruzaram o Helesponto e instalaram um reino na Turquia Central (a Galácia).”
-- Simon James, Exploring the World of the Celts

Uma cultura não nasce da noite para o dia: o processo é longo e envolve, como vimos anteriormente, a mescla de diversas culturas originais diferentes entre si, mas que contribuem para a geração de uma nova identidade cultural. A primeira etapa do desenvolvimento da cultura celta, conhecida como Hallstatt, costuma ser identificada com o período que vai de 700 a 450 a.C., mas seguramente variações dos idiomas celtas já eram falados pela Europa muitos séculos antes. A chegada do idioma indo-europeu à Europa costuma ser datada em torno de 4000 a.C., quando teria ocorrido uma invasão de povos indo-europeus, e a partir de então suas diversas ramificações se desenvolveram .

Os paleo-lingüistas apontam para o vale do rio Danúbio, na Europa Central, como o berço onde surge o idioma celta. Os vestígios arqueológicos da região mostram que, nessa área, desenvolveu-se a cultura Hallstatt, caracterizada por fortificações em colinas, sepultamentos ricamente elaborados (alguns com carruagens inteiras) e uma arte singular. Nessa área fica a vila austríaca de Hallstatt onde, em 1846, Georg Ramsauer descobriu um cemitério da Idade do Ferro. As escavações revelaram mais de mil sepulturas com objetos – espadas, escudos, lanças, cerâmica – de formas características, identificadas com a cultura celta. Anos depois, em 1857, uma seca no lago Neuchatel, na Suíça, revelaria uma nova fase da evolução da cultura celta, que receberia o nome da vila às margens do lago: La Tène.

As traduções dos textos de autores clássicos – gregos e romanos – localizavam os celtas precisamente naquela área. Assim, conhecemos hoje o berço da cultura celta.


Expansão

Conforme nos ilustra Simon James no tópico anterior, os celtas promoveram incursões regulares às terras circunvizinhas, culminando com a expansão dos territórios por eles povoados. Partindo de suas terras na Europa Central, os celtas estabeleceram-se nas Ilhas Britânicas (700 a.e.a.), na Península Ibérica (600 a.e.a.), no norte da Itália (400 a.e.a.), saquearam Roma (390 a.e.a.), cruzaram os Cárpatos (310 a.e.a.), saquearam Delfos na Grécia (279 a.e.a.), fundaram os reinos celtas da Galácia na Ásia Menor e de Tylis nas margens do Mar Negro e quase certamente se estabeleceram ao longo do Rio Don, na Ucrânia. Essas diferentes ondas migratórias não fazem parte de um processo articulado, mas são a ação natural de um povo para quem a guerra e a conquista era um modo de vida.


Guerra e Comércio

Por suas origens indo-européias, as tribos celtas sempre mostraram uma grande pré-disposição para a guerra – seja entre eles, seja contra outros povos. A adoção da metalurgia em ferro, por volta de 750 a.e.a., fez deles guerreiros ainda mais temíveis. Mas os celtas não eram, ao contrário do que algumas fontes fazem supor, um bando de bárbaros sanguinários.

Os primeiros contatos entre celtas e gregos ocorreram de forma pacífica, na colônia comercial de Massalia (atual Marselha), fundada em 600 a.e.a. Ali, os celtas (chamados pelos gregos de keltoi) forneciam os bens que os gregos desejavam – metais, peles, escravos, mel e âmbar - em troca de cerâmica e, principalmente, vinho. (Esta, aliás, é a origem de alguns dos mais cobiçados vinhos modernos: as vinícolas às margens do Ródano – literalmente, Côte du Rhône – foram criadas para saciar a sede dos nobres celtas pelo néctar fermentado das vinhas. Desde então, o vinho que lá se produz é um dos melhores do mundo – ancestrais videiras celtas!).
O comércio, aliás, foi o responsável pela chegada da cultura Hallstatt às Ilhas Britânicas, por volta de 550 a.e.a. – mercadores costumavam navegar até aquelas terras em busca de matérias primas como o cobre, o estanho e o ouro.
O comércio entre os celtas e o mundo clássico parece ter surtido um efeito nefasto: os vestígios tumulares indicam a formação de uma elite dominante e altamente dada à ostentação, possivelmente motivados pela competição entre os chefes tribais que disputavam o comércio. Mas mudanças nas rotas comerciais de então trouxeram um fim abrupto para a cultura Hallstatt – e talvez a concentração de renda e poder nas mãos de poucos tenha contribuído para a revolução cultural que se seguiu, dando origem ao período La Tène da cultura celta, que surge na região da Boêmia, por volta de 450 a.e.a., e que chega à Grã-Bretanha poucas décadas depois.
Este período foi marcado por grandes ondas migratórias, como a que levou tribos celtas para o norte da Itália em 400 a.e.a., com o subseqüente saque de Roma por celtas liderados por Brenno. Ao sitiar a cidade e invadi-la, Brenno cobrou aos romanos um pesado tributo em ouro para poupar-lhes a vida e a cidade. Consta que, ao ver o ouro que era pesado pelos celtas, um romano teria se lamentado, ao que Brenno respondeu a célebre frase: “Vae Victis”, “Ai dos vencidos!” Mas o que teria cuasado as migrações? Ao que tudo indica, superpopulação, que teria gerado graves tensões sociais, especialmente diante de uma elite que concentrava cada vez mais riqueza e poder. A busca pelas terras ao sul – Itália e Grécia – soa natural, visto que eram terras férteis e promissoras. As invasões celtas são retratadas por Tito Lívio, que relata como Bellovesus e Segovesus lideram as hordas celtas que cruzam os Bálcãs em 280 a.e.a. Outro grupo de celtas, coincidentemente liderados por um outro Brenno, chegaria a invadir Delfos, o coração espiritual – e sede dos tesouros – das cidades gregas. Reza a lenda que uma tempestade trouxe loucura e caos às hostes invasoras e o celtas, ensandecidos, mataram-se uns aos outros. Ainda que alguns relatos mitológicos posteriores nos informem que os celtas possuíam um furor de batalha semelhante aos ‘berserkers’ nórdicos, é pouco provável que essa loucura tenha acarretado a derrota dos bem preparados guerreiros celtas.

Os gregos dizem que foram seus deuses que salvaram Delfos. Historiadores modernos dizem que talvez Lívio tenha criado essa história para mascarar um tributo humilhante imposto pelos invasores, nos moldes do que o outro Brenno fizera ao invadir Roma.
Mas nem sempre os gregos viram nos celtas inimigos: há registros de mercenários celtas (gaesatae) que teriam lutado ao lado de gregos. E mesmo um dos maiores personagens da História Antiga, Alexandre Magno, teria recebido respeitosamente uma embaixada de celtas – segundo alguns autores, druidas – que o visitaram em Babilônia por volta de 323 a.e.a.
Já pelos romanos, os celtas sempre foram vistos como um povo temível, e a invasão e povoação das terras ao norte da Península Itálica por tribos celtas como os Boii, os insubres e os senones mostraram que Roma tinha razão mesmo em temê-los. A expansão dos senones só é interrompida quando, em 295, os romanos lhes impõem uma crucial derrota em Sentinum. Roma começava a se livrar de seus inconvenientes vizinhos do norte. Longe dali, na Trácia, os celtas conhecidos como gálatas fundam os reinos de Tylis e da Galácia, e guerreiros celtas são recrutados no Egito pelo Faraó Ptolomeu I.

Os celtas da Gália Cisalpina – a Gália “deste lado dos Alpes”, como os romanos chamavam o norte da Itália – sofreriam uma humilhante derrota para as legiões de Roma na Batalha de Telamon, mas dariam o troco anos depois, ao apoiar a invasão da Itália pelos cartaginenses liderados por Aníbal. Mas Roma, então, já era uma grande força militar, e resistiria para formar um dos mais formidáveis impérios da História.


Declínio

Séculos de contato com as culturas grega e romana levaram os celtas da Gália a absorver naturalmente muitos costumes mediterrâneos. Além da visível influência nas artes, os celtas adotaram o uso de moedas e começaram a desenvolver estruturas proto-urbanas chamadas de oppida (singular, oppidum), encontradas numa vasta área que se estende do Danúbio até a Península Ibérica e o sul da Grã-Bretanha. A despeito disso, porém, o grosso da população celta ainda vivia em pequenas vilas e estabelecimentos rurais.

No extremo oeste da Europa, nas terras hoje portuguesas, vivia a tribo celta dos Lusitani – assim descritas pelos romanos: “nos confins da Europa, onde as terras beijam o mar, vive um povo selvagem que não se governa e não se deixa governar”. Em 139 a.e.a., cansados de tamanha indisciplina, os romanos assassinam Viriato, líder dos Lusitani – a expansão de Roma não podia parar...
Anos depois, a anexação do sul da Gália por Roma dá origem a uma nova província romana – até hoje conhecida como Provence. É mais ou menos neste período que foram redigidos alguns dos mais preciosos registros da cultura celta da Gália, graças às viagens do grego sírio Poseidonius. Os textos de Poseidonius são surpreendentemente neutros para um grego, e seus relatos recolhidos in loco mostram o dia-a-dia, ois valores e costumes dos celtas. O texto integral da Historia de Poseidonius infelizmente se perdeu, restando apenas trechos citados por autores posteriores, como Diodoro da Sicília, Estrabão, Ateneu e outros. Seja como for, a ele devemos muito do que hoje se sabe sobre os celtas continentais.

No ano de 58 tem início a conquista da Gália. Os relatos de Julio César em De Bello Gallico constituem outra importante fonte de referência sobre os celtas, se bem que devam ser filtrados pela natureza panfletária de seus textos, cuja intenção fundamental era justificar suas campanhas contra os celtas junto ao senado. Em 55, Julio César finaliza a conquista da Gália após a batalha de Alésia, quando o líder gaulês Vercingetorix depõe suas armas. Vercingetorix é até hoje comemorado pelos franceses como um herói, e realmente ele se destaca por ter conseguido um feito inédito: unir tribos celtas diferentes sob seu comando – a autoridade intertribal era uma característica que só os druidas possuíam e há indícios que o próprio Vercingetorix fosse um druida.

Os druidas gozavam de ampla ascendência na sociedade celta, e parece óbvio que as conquistas das terras celtas da Gália e da Bretanha só seriam possíveis aos romanos quando estes se livrassem dos druidas. Julio César é taxativo ao afirmar que os druidas da Gália dirigiam-se à Bretanha para lá serem instruídos, e é por isso que, após a conquista da Gália, os romanos lançam-se com força sobre as terras britânicas. A invasão de 43 e.a. é comandada pelo Imperador Claudius – ele próprio nascido em território gaulês, na cidade de Lugdunum (moderna Lyon). Na Bretanha, Claudius depara-se com uma feroz resistência liderada por Cunobelinus, que mais tarde inspiraria a personagem Cymbeline de Shakespeare. A resistência dos celtas britânicos cai por terra quando, em 51, o líder Caratacus é capturado. Menos de dez anos depois, os romanos promovem o terrível massacre da Ilha de Môn (Anglesey, País de Gales) – um centro druídico onde a barbárie dos legionários romanos é reprovada até pelo historiador Tácito. Em Anglesey, mulheres, crianças e idosos são massacrados pelas legiões de Roma. A destruição do centro druídico de Anglesey parece ter relação com a revolta liderada pela rainha Boudicca no ano 60.

Boudicca escreve uma das mais dramáticas páginas da história dos celtas, ao unir sob seu comando tribos diferentes na tentativa de expulsar os romanos da ilha da Grã-Bretanha – e quase consegue, impondo pesadas derrotas aos romanos. Mas sua resistência também se mostra insuficiente para deter as legiões, e diante da derrota iminente, Boudicca comete suicídio, preferindo tirar a própria vida a ser capturada e novamente humilhada pelos romanos. Aqui cessam os registros clássicos dos celtas. As terras da Gália, da Grã-Bretanha, da Galácia e da Ibéria, não eram mais celtas, mas romanas; as tribos dos Boii, dos Sequani, dos Belgae e dos Parisi não eram mais livres, pois haviam sido romanizadas e subjugadas. Os celtas deixavam o mundo real e passavam para as páginas da história. E esta página, ao menos no continente europeu, estava virada.


Sobrevivência

Mas as sandálias dos legionários romanos jamais pisaram a Hibernia. A oeste da Grã-Bretanha, essa grande ilha nos confins da Europa estava envolta em mistério. Habitada por tribos celtas que se desenvolveriam longe dos olhos de gregos e romanos, a Irlanda seria o último bastião da cultura celta, e continua sendo uma fonte maravilhosa para a compreensão do legado dos celtas. Também a Escócia, isolada pelos romanos com a construção de uma muralha que ligava um litoral ao outro da ilha, foi capaz de preservar elementos da cultura celta – e o mesmo se aplica ao País de Gales.