domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Que é Hy Brasil?


CANTARINO, Geraldo. uma ILHA chamada BRASIL: O paraíso irlandês no passado brasileiro. Rio de Janeiro: Muad, 2004.
Trecho retirado integralmente das páginas 42 e 43 do livro acima citado.


Em busca de definições, fui direcionando o curso para fontes menos convencionais. No Dictionary of Imaginary Places, por exemplo, Brasil aparece como sendo uma ilha representada por um grande círculo de terra cercado de pequenas ilhas: “Os simples mortais não conseguem vê-la e apenas alguns poucos escolhidos foram abençoados com a visão de Brasil.” O Dictionary of Celtic Mythology de James Mackillop, publicado em 1998, diz que Hy Brasil, Brazil, Breasil, Breasal ou simplesmente, Brasil é uma misteriosa ilha, um paraíso terrestre que se pensava existir na mesma latitude da Irlanda, mas em alto-mar. O Dictionary of Irsh Myth and Legend, de Ronan Coghlan, a define como uma ilha lendária do Atlântico supostamente a oeste da Irlanda e que se torna visível a cada sete anos. O livro The Annals of the Magic Isle, de Ralph Caine, descreve O’Brasil, a Ilha dos Abençoados, com mais precisão ainda quanto a sua forma e posição: “ela aparece a menos de 50 milhas a oeste, sempre a oeste, a partir do litoral do condado de Kerry; quase redonda e com 20 milhas de diâmetro!”
            Muitas outras definições foram surgindo no meio do caminho, aqui e ali. Há quem acredite que Hy Brasil existiu de verdade num passado distante. Para outros, a ilha faz parte de uma categoria de objetos e lugares indecifráveis, de existência duvidosa, permeando os limites entre o mundo real e o imaginário. Hy Brasil aparece, por exemplo, na Encyclopedia of Things that Never Were, como uma ilha do oceano Atlântico, “provavelmente na mesma latitude dos Açores, apesar de ter aparecido tanto ao norte quanto ao sul da Irlanda. Na Antiguidade, a ilha desfrutou de um próspero comércio de pau-de-tinta, como pau-campeche, usado para tingir tecidos dos fenícios, romanos e egípcios.”


            Inicialmente puros, descreve a enciclopédia, seus habitantes teriam sido corrompidos pelo contínuo contato com navegantes desregrados e libidinosos. A chegada de santos missionários teria restaurado de vez a vocação original da ilha. Os ilhéus, muito impressionados com a marinharia desses santos, que navegavam pelo oceano em barcos de pedra, resolveram abandonar suas traquinagens. As gerações seguintes se tornaram tão moralmente puras que a ilha acabou rompendo suas conexões mundanas e partiu para um outro plano, entre o Céu e a Terra. Hoje, Hy Brasil pode ser vista apenas por aqueles que estão livres dos desejos do mundo. Mesmo assim, é bem provável que seja apenas uma visão fugas, numa rara e sublime aparição, vislumbrando-a acima da linha do horizonte durante o pôr do sol.
            Há os que dizem que a ilha não tem endereço fixo no mundo que conhecemos e nunca aparece duas vezes no mesmo lugar. Raramente é alcançada pela visão humana, com exceção apenas de crianças e sonhadores, que estão abertos para o mistério. Hoje perdida sob as ondas, no fundo do mar, e relegada ao domínio do mito – nos contam outros tantos – Hy Brasil foi um dia uma terra encantada, onde vivia tudo que era belo e misterioso, um reino de fadas e de cores que ficava além do arco-íris.
            Mas nem tudo é um mar de rosas quando se fala em Hy Brasil. Muita gente a viu com outros olhos, como sendo um sinal de mau agouro, um feitiço fatal que provocaria uma morte lenta, num período de sete anos, em quem a visse. Essa ilha diabólica também seria a residência de gigantes que poderiam invadir a Irlanda a qualquer momento.


            E há quem jure de pés juntos que o encanto não se perdeu e afirme que, o mesmo depois de séculos, Hy Brasil continua sendo o esconderijo de criaturas mágicas, cuja existência é negada na terra dos homens. É a morada escolhida por fadas, dragões e deuses aposentados. Ou, ainda, duendes, gnomos e antigas tribos, quando não mais encontraram um lugar no mundo contemporâneo. Em Hy Brasil, comentam alguns, a sabedoria do passado está preservada e a antiga magia continua viva como em nenhum outro lugar. É pra lá que vão os sonhos esquecidos, tornarem-se realidade.



Sláinte!!!










domingo, 19 de fevereiro de 2012

HY-BRAZIL - A Ilha dos Bem Aventurados


tradução do poema retirado de: CANTARINO, Geraldo. uma ILHA chamada BRASIL O paraíso irlandês no passado brasileiro.

Hy-Brazil
The Isle of the Blest



No oceano que esculpe rochas onde moras,
Uma terra enigmática apareceu, é o que contam;
Os homens a consideram uma região de luz e descanso,
E a chamaram de O’Brazil, a ilha dos Bem-Aventurados.
Ano após ano, na margem azul do oceano,
A linda aparição se revelava encantadora e suave;
Nuvens douradas encortinavam o mar onde ela se encontrava,
Parecia um Éden, distante, muito distante.

Um camponês, que ouviu a maravilhosa história,
Na brisa do Oriente afrouxou sua vela;
De Ara*, a sagrada, ele rumou para o oeste,
Pois embora Ara fosse sagrada, O’Brazil era abençoada.
Ele não ouviu as vozes que chamavam da costa –
Ele não ouviu o ameaçador rugir dos ventos em ascensão:
Casa, família e segurança ele deixou naquele dia,
E zarpou para O’Brazil, distante , muito distante!

Raiou a manhã no mar, e aquela ilha enigmática
Acima da tênue linha do horizonte, refletiu seu sorriso;
O meio-dia brilhou nas ondas e aquela encosta ilusória
Parecia encantadoramente distante e nebulosa, como antes:
A noite solitária baixou na rota do viajante,
E pra Ara, mais uma vez, ele olhou de volta, timidamente;
Oh! Longe na margem do oceano onde ela se encontra,
Porém, a Ilha dos Abençoados estava distante, muito distante!


Afoito sonhador, retorne! Ó, ventos do mar alto,
Levem-no de volta para sua velha e tranqüila Ara novamente!
Tolo imprudente! Por uma visão de felicidade e irreal
Permutar a vida calma de trabalho e paz!
A voz da razão em vão falou
Ele nunca mais a Ara retornou;
Anoiteceu no mar, entre tempestades e garoa constante,
E morreu nas águas, distante, muito distante!

Para vocês, caros amigos, preciso de pausa para revelar
As lições de prudência que os meus versos ocultam;
De como a ilusão do prazer vista distante na juventude
Muitas vezes seduz um coração fraco pra além da verdade.
Toda encantadora se aparenta, como aquela ilha enigmática,
Que até o olhar do mais sábio é atraído pelo seu sorriso;
Mas, ai do coração que ela desviou
Do doce conforto do dever, para distante, muito distante!

Pobre aventurado desamparado! Em vão pôde
Olhar de volta para a verde Ara ao longe no mar bravio;
Mas o coração do viajante tem acima um Protetor,
Que se lembra do filho, mesmo errante, do Seu amor.
Oh, quem a oferta da segurança iria refutar,
Quanto tudo o que ele pede é a determinação de retornar;
Para seguir uma aparição, dia após dia,
E morrer na tempestade, distante, muito distante!


Gerald Griffin


*Ara ou Ára é uma antiga grafia das Ilhas Aran, um conjunto de três ilhas que fica na costa oeste da Irlanda.


Sláinte!