Autora: Rowena Arnehoy Seneween. O texto se encontra originalmente na página do Templo de Avalon em 3 partes.
(Parte 1)
Os símbolos são emblemas, sinais ou figuras que naturalmente evocam uma aura de mistério e magia. Muitos dos símbolos que hoje conhecemos, são traduções de sinais perdidos no tempo, baseados em suposições e analogias.
Apesar de todas as descobertas de arqueólogos e antropólogos, ainda é difícil saber realmente a diferença entre o fato e a ficção.
Os símbolos, assim como toda a cultura celta, eram sagrados e por isso, transmitidos apenas através de rituais, contos, músicas e danças, mas jamais pela palavra escrita.
Alguns registros escritos remanescentes dos celtas são muito escassos e, na sua maioria, descritos pelos romanos durante a ascensão do Império Romano e por monges da Idade Média. Portanto, observemos os símbolos celtas de forma simples, seguindo apenas a verdade e a intuição de nossos corações.
Espirais Celtas
As espirais celtas são encontradas em vários artefatos e construções antigas, o seu significado reside na beleza e na simplicidade dos seus traços. Geralmente, representam o equilíbrio do universo dentro de nós, ou seja, o equilíbrio espiritual interior e a consciência exterior.
Elas formam um padrão que começa pelo centro e se deslocam para fora ou para dentro, conforme a sua configuração. Esses movimentos podem ser observados no sentido horário ou anti-horário.
As espirais com movimentos no sentido horário estão associadas ao Sol e a harmonia com a Terra ou movimentos que representam à expansão e à atração.
Por outro lado, as espirais com movimentos no sentido anti-horário estão associadas à manipulação da natureza e aos encantamentos que visam à interiorização e à transmutação de energias, assim como a proteção.
Lembrando que entre os celtas, mover-se em torno de um objeto em sentido anti-horário era considerado como mau agouro.
Os antigos montes de Newgrange, Knowth, Dowth, Fourknocks, Loughcrew e Tara, na Irlanda, são exemplos maravilhosos de espirais celtas, conhecidos como "As Espirais da Vida", que representam de um modo geral o ciclo da vida, da morte e do renascimento... A eternidade da alma!
Triskelion ou Triskle
Triskelion é considerado um antigo símbolo indo-europeu, palavra de origem grega, que literalmente significa "três pernas", e, de fato, este símbolo nos lembra três pernas correndo ou três pontas curvadas, uma referência ao movimento da vida e do universo.
O número três era considerado sagrado pelos celtas, reforçando o conceito da triplicidade e da cosmologia celta de: Submundo, Mundo Intermediário e Mundo Superior.
O triskelion também é conhecido por triskle ou triskele, triqueta, triskel, threefold ou espiral tripla, e possui dois grandes aspectos principais de simbolismo implícitos em sua representação, que são:
- Simbologia ligada ao constante movimento de ir, representando: a ação, o progresso, a evolução, a criação e os ciclos de crescimento.
- Simbologia ligada às representações da triplicidade: Corpo, Mente e Espírito; Passado, Presente e Futuro; Primavera, Verão e Inverno... Os ciclos de transformação.
Os nós celtas são variantes entrelaçadas destes maravilhosos símbolos!
Representação dos Três Reinos Celtas
Sendo o número três, sagrado para os celtas, ele nos liga aos reinos do Céu, da Terra e do Mar – elementos que compunham todo o mundo – e por sua vez formavam os três reinos celtas, que eram vistos da seguinte forma:
- O Céu, que está sobre nossa cabeça e nos oferece o Sol, a Lua, as estrelas e as chuvas que fertilizam o solo.
- A Terra, que está sob nossos pés e nos dá o alimento, nos abriga e faz tudo crescer - são as raízes fortes das árvores.
- O Mar é a água que está em nós, representa o Portal para o Outro Mundo, que sacia a sede e nos dá a vida - sem a água tudo perece e morre.
Sendo os três elementos interdependentes, onde cada um possui seu significado próprio, mas que dependem um do outro para continuar existindo, permitido assim, que o nosso mundo também exista em perfeita interação.
Essa cosmologia não-dualista é bem diferente dos quatros elementos e da visão grega de "céu e inferno", pois os celtas viam tudo na forma de tríades. Além disso, cada reino era relacionado a um grande caldeirão sustentado por três pernas, que por sua vez, também possuíam três atributos diferentes.
Os três mundos são compostos da seguinte maneira:
- O Outro Mundo ou Submundo: onde os antepassados, os espíritos da natureza, as Deusas e os Deuses vivem.
- O Mundo Mortal ou Mundo Intermediário: onde nós e a natureza vivemos.
- O Mundo Celestial ou Superior: onde as energias cósmicas como o Sol, a Lua e o vento se movem, associadas aos Deuses.
As três pontas do triskelion eram associadas ao fluxo das estações que representam também os Três Reinos Celtas: Terra, Céu e Mar. E numa versão mais moderna, às três fases da Lua: Crescente, Cheia e Minguante.
Com as mesmas características observadas nas espirais, seu movimento, também, pode ser no sentido horário ou anti-horário. Simbolicamente, o sentido horário: representa a expansão e crescimento e o sentido anti-horário: a proteção e o recolhimento.
"Tendo em consideração o número três, símbolo sagrado dos Celtas, o qual tanto se apresenta com a forma de tríade como de triskel, a tripla espiral que, girando à volta de um ponto central, simboliza por excelência o universo em expansão." Jean Markale - A Grande Epopéia dos Celtas.
De um modo geral este símbolo está associado ao crescimento pessoal, ao desenvolvimento humano, o fluir da consciência e da expansão espiritual.
(Parte 2)
Caminhando pelo mundo mágico dos símbolos e seus significados, podemos dizer, que de um modo geral, os símbolos celtas estão associados às espirais da vida e ao número três, tido como sagrado na cultura celta.
"Para os celtas, o número três era o número mágico por excelência, o que expressava sua visão do mundo. Podemos encontrá-lo repetido à exaustão, em seus mitos. Era representado graficamente como um triskele, símbolo solar de três braços derivado da roda." Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May.
Desde as formas mais simples às mais compostas, podemos encontrar um padrão exato de movimentos centrífugos e centrípetos, representando movimentos internos e externos ligados aos ciclos naturais do homem e aos fenômenos da natureza.
As espirais celtas encontradas em antigos sítios arqueológicos, conforme estudos e pesquisas, poderiam ser interpretações e representações exatas de configurações planetárias visíveis de estrelas brilhantes, de eclipses solares e lunares.
Os povos antigos viam o tempo como uma roda, um círculo sem começo e nem fim.
A roda é um símbolo solar, que representava o dia e a noite, a união de duas grandes forças naturais, que dividem o ano em uma parte clara e a outra escura.
Em Beltane, a roda entrava na época clara do ano (verão), marcando um período de crescimento e ação exterior. Já em Samhain a roda cruzava a metade escura (inverno), marcando um período de busca interior e recolhimento.
Podemos dividir a roda em quatro partes centrais representando os quatros grandes festivais celtas, que são: Samhain, Imbolc, Beltane e Lughnasadh. Os solstícios e os equinócios, numa visão moderna, são divididos em quatro partes transversais, sendo: Solstício de Inverno, Equinócio de Primavera, Solstício de Verão e Equinócio de Outono.
"Os celtas usaram a roda com um símbolo, um amuleto, enquanto que nos festivais, em pleno verão ardente, a roda, rolando em um declive, simbolizava o sol." - A Religião dos Antigos Celtas - J.A. Macculloch.
Os símbolos celtas, geralmente, são formados de espirais simples, duplas e triplas.
Espirais Simples: As espirais em sentido horário representam o sol de verão (a expansão) e no sentido anti-horário o sol de inverno (a proteção). Representam os solstícios.
Espirais Duplas: As espirais duplas representam, o equilíbrio, através dos equinócios da primavera e do outono.
Espirais Triplas: As espirais triplas representam a união dos Três Reinos Celtas
"Para os celtas, a vida significava movimento e dinamismo e por isso não havia alternativa possível: descartada a opção de ficar quieto, sob pena de ser destruído pela incessante ondulação da existência, a única coisa que restava a fazer, era seguir andando com ela." Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May.
Os símbolos celtas são inspirações sagradas que ampliam a consciência, despertando sutilmente nosso interesse ancestral por essa misteriosa cultura, além de nos possibilitar acessar um mundo repleto de novas experiências.
(Parte 3)
Os símbolos sempre exerceram um enorme fascínio sob o nosso subconsciente, revelando mistérios guardados na alma e no coração, por vezes, adormecidos pelas brumas do tempo e que nem sempre conseguimos explicar com simples palavras.
A maioria dos símbolos celtas como a roda, as espirais e suas variantes, conhecidas como os nomes de triskelion, triskle, triskele, triqueta ou threefold, reconhecidamente, são representações solares que aparecem em muitas culturas antigas, esculpidas em rochas ou metais.
"O Sol foi representado pelo símbolo da roda. A força solar se manifesta como uma divindade antropomórfica que, no entanto, manteve o seu motivo de roda original para representar o Sol se movendo pelo céu. O espírito do Sol foi capaz de criar e destruir a vida." Animals in Celtic Life and Myth - Miranda Jane Aldhouse Green.
Alguns desses símbolos remontam há mais de 3000 a.C. e podem ser visto em monumentos pré-históricos e em sítios arqueológicos como em Newgrange, no Condado de County Meath na Irlanda.
A Cruz Solar Celta
A cruz dentro de um círculo ou uma roda, conhecida como cruz solar, foi considerada como um símbolo sagrado que representava o Sol desde os tempos pré-cristãos. Os antigos viam o tempo como uma roda, um círculo sem começo e nem fim.
O círculo e a cruz são símbolos universais de antigas culturas do mundo. Para os celtas o círculo significa o infinito e a cruz, ao se estender para os lados, simboliza os Quatro Grandes Festivais: Samhain, Imbolc, Beltane e Lughnasadh.
No folclore irlandês a Cruz Solar é associada à Brighid, conhecida também como "Cruz de Brighid". Na Irlanda é comum confeccioná-la em palha de trigo ou junco. Este antigo costume é derivado de uma cerimônia pré-cristã, relacionada com a preparação das sementes na primavera.
A cruz e outros símbolos celtas, assim como os nós celtas (entrelaçamentos), podem ser encontrados em peças de uso pessoal e até mesmo em armas de guerra, possivelmente com o propósito de se obter boa sorte, proteção e vitória.
Os celtas acreditavam que o centro da roda era o local, onde o céu e a terra se encontram, ou seja, o lugar onde a alma alcançaria a iluminação... A eterna conexão entre o divino e o profano!
"Imagens dos deuses na Gália podem ser classificadas por meio de seus símbolos, o malho (martelo de forja de cabo longo com cabeça de metal para bater no ferro) e a taça (símbolo da fartura), o martelo, a roda, a cornucópia e o torque usado por Cernunnos. Outros símbolos ocorrem em imagens, altares, monumentos e moedas, mas sem qualquer texto antigo para interpretar esses diferentes símbolos, todas as explicações são possíveis conjecturas." A Religião dos Antigos Celtas - J.A. Macculloch.
[Confira AQUI a Parte 3 completa que fala sobre os Animais Sagrados]
Sláinte!
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