terça-feira, 10 de julho de 2012

FIONN E O SALMÃO DA SABEDORIA - Um Conto Bárdico

Origem: Ordem dos Bardos, Ovates & Druidas
por Alexandre Gabriel


Artigo originalmente publicado em "Mandrágora - O Almanaque Pagão - 2011: No Bosque Sagrado dos Druidas" (© Zéfiro, 2010. Todos os direitos reservados).







Muitos anos antes de Fionn se tornar no grande chefe guerreiro dos Fianna, o seu nome de criança era Demne Máel e a certa altura da sua juventude viu-se confrontado com a morte do seu pai às mãos de Goll MacMorna, chefe do Clã Morna, na Batalha de Castleknock, na Irlanda. Temendo pela sua vida, Fionn decidiu fugir, procurando refúgio no lago Linn Fiach. Aí habitava o bardo Finnéces, a quem Fionn pediu que lhe ensinasse as artes bárdicas, pois sabia que jamais alguém ousaria levantar um dedo que fosse a um poeta, que era uma classe digna de grande respeito por todos.


Finnéces aceitou-o como discípulo e contou-lhe a história que o tinha levado até aquele lugar: dizia-se que habitava nas profundezas tranquilas deste lago do rio Boyne o Salmão da Sabedoria, que concederia todo o seu Conhecimento e Saber àquele que primeiro o comesse, o que tinha atraído diversas pessoas ansiosas por encontrar este peixe sagrado. Para além disso, circulava também uma profecia, segundo a qual caberia a um jovem chamado Fionn alcançar o êxito nesta demanda.


Tinham já passado sete longos anos desde que Finnéces tinha acampado nas margens do lago, aí permanecendo dia e noite, segurando a sua cana de pesca, à espera que o divino salmão mordesse o seu isco, trazendo-lhe a tão desejada iluminação.


Pouco tempo depois da chegada de Fionn, a cana de Finnéces mexeu-se e remexeu-se com uma violência fora do comum. Não era um peixe qualquer. Finnéces puxou a cana e ficou pasmado, tinha nas suas mãos o Salmão da Sabedoria. Radiante de alegria, pediu a Fionn que cozinhasse o peixe, mas ordenou-lhe que não comesse a sua carne, fosse por que motivo fosse. Fionn assim fez, mas enquanto preparava o cozinhado reparou numa bolha na pele do peixe e tentou rebentá-la. Porém, ao fazê-lo, queimou o dedo no peixe a escaldar e instintivamente levou-o à boca, chupando-o para aliviar a dor. Assim, de forma inadvertida, acabou por adquirir todo o conhecimento do mundo, bem como os dons da sabedoria e da adivinhação. Ao saber do sucedido, Finnéces apercebeu-se que a profecia se tinha cumprido. Fê-lo então abandonar o nome de Demne, passando a chamá-lo de Fionn. A partir de então, sempre que chupava o dedo, todos os segredos do mundo lhe eram revelados.





Nota: Esta narrativa plena de simbolismo tem muitas semelhanças com a história de Taliesin, proveniente do País de Gales, na qual Gwion (palavra galesa que tem correspondência com o irlandês Fionn) adquire igualmente a sabedoria, de uma forma inadvertida, enquanto cuidava do Caldeirão da deusa Ceridwen.


Um dos significados atribuídos a Finnéces, que significa “Sabedoria Branca”, é “Fionn, o Vidente” e muitos autores consideram-no como sendo um duplo do próprio Fionn. Fionn será, aliás, uma alcunha que significa “belo” ou “branco”, que terá sido dada ao jovem Demne (que significa “certeza”) quando o seu cabelo ficou prematuramente branco, conforme nos contam as lendas.





Leitura Adicional:
VARANDAS, Angélica, Mitos e Lendas Celtas da Irlanda, Livros e Livros, 2006.
VARANDAS, Angélica, Mitos e Lendas Celtas do País de Gales, Livros e Livros, 2007.
MATTHEWS, John & Caitlín, Taliesin: The Last Celtic Shaman, Vermont, Inner Traditions, 2002.